terça-feira, 10 de abril de 2012

Espiritualidade por Leonardo Boff

     A coluna de terça-feira é destinada ao tema espiritualidade. Começamos a reproduzir hoje uma série de entrevistas com Leonardo Boff * sobre o assunto. Boff é  autor de mais de 60 livros nas áreas de Teologia, Ecologia, Espiritualidade, Filosofia, Antropologia e Mística. Além de ser  professor de Teologia e Espiritualidade em vários centros de estudo e universidades no Brasil e no exterior, também é professor-visitante de universidades como Harvard (EUA) e Heidelberg (Alemanha).


     Para muitos, exercer espiritualidade significa se retirar para locais isolados e entrar em uma reflexão profunda. No entanto, a verdadeira prática pode e deve ocorrer no cotidiano. Em meio de nossos desafios e vitórias  temos que criar uma conexão com nosso Eu Espiritual e uni-lo ao aspecto material da vida. 


A VISÃO DE LEONARDO BOFF SOBRE ESPIRITUALIDADE


Espiritualidade, dimensão esquecida e necessária


Espiritualidade vem de espírito. Para entendermos o que seja espírito precisamos desenvolver uma concepção de ser humano que seja mais fecunda do que aquela convencional, transmitida pela cultura dominante. Esta afirma que o ser humano é composto de corpo e alma ou de matéria e espírito. Ao invés de entender essa afirmação de uma forma integrada e globalizante, entendeu-a de forma dualista, fragmentada e justaposta. Assim surgiram os muitos saberes ligados ao corpo e à matéria (ciências da natureza) e os vinculados ao espírito e à alma (ciências do humano). Perdeu-se a unidade sagrada do ser humano vivo que é a convivência dinâmica de materia e de espírito entrelaçados e inter-retro-conectados.


1. Espiritualidade concerne ao todo ou à parte?



Espiritualidade, nesta segmentarização, significa cultivar um lado do ser humano: seu espírito, pela meditação, pela interiorização, pelo encontro consigo mesmo e com Deus. Esta diligência implica certo distanciamento da dimensão da matéria ou do corpo.
Mesmo assim espiritualidade constitui uma tarefa, seguramente importante, mas ao lado de outras mais. Temos a ver com uma parte e não com o todo.
Como vivemos numa sociedade altamente acelerada em seus processos históricos-sociais, o cultivo da espiritualidade, nesse sentido, nos obriga a buscar lugares onde encontramos condições de silêncio, calma e paz, adequados para a interiorização.
Esta compreensão não é errônea. Ela contem muita verdade. Mas é reducionista. Não explora as riquezas presentes no ser humano quando entendido de forma mais globalizante. Então aparece a espiritualidade como modo- de-ser da pessoa e não apenas como momento de sua vida.
Antes de mais nada importa enfatizar fato de que, tomado concretamente, o ser humano constitui uma totalidade complexa. Quando dizemos “totalidade” significa que nele não existem partes justapostas. Tudo nele se encontra articulado e harmonizado. Quando dizemos “complexa” significa que o ser humano não é simples, mas a sinfonia de múltipas dimensões. Entre outras, discernimos três dimensões fundamentais do único ser humano: a exterioridade, a interioridade e a profundidade.


* As entrevistas foram retiradas do site de Leonardo Boff http://leonardoboff.com/site/vista/outros/espiritualidade.htm

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